Mais de 13 horas depois do anúncio do resultado final das eleições presidenciais no Brasil, Jair Bolsonaro ainda não se pronunciou e, a julgar pelas notícias que nos chegam do outro lado do Atlântico, estará runido com os seus ministros no Palácio do Planalto. Ali, em Brasília, Bolsonaro estará a estudar a melhor forma, no seu entender, de reagir a uma derrota por apenas dois milhões entre um total de 156,5 milhões de brasileiros numa eleição histórica que deixa Lula da Silva no poder, mas também deixa a certeza de um país fracturado a meio em que perto de metade da população não vê com bons olhos o aceitar da derrota do conservadorismo de Bolsonaro.

Curiosamente, se olharmos para os resultados comparativos da primeira para a segunda volta nas eleições presidenciais do Brasil, acabou por ser Bolsonaro quem conseguiu capitalizar mais os votos dos que tiveram que mudar dos demais candidatos para apenas um dos dois que surgiram no boletim de voto nesta segunda volta. O ainda Presidente em exercício tem ainda assim 58 milhões de brasileiros e muitos deles “embarcam” na teoria da fraude eleitoral, havendo mesmo quem afirme ainda hoje que Lula da Silva, ele que esteve detido na sequência do processo Lava Jato, não poderia por isso sequer ter sido candidato.

A verdade é que o mesmo Lula da Silva, o presidente do PT, acabou mesmo por vencer pelos tais dois milhões de votos de vantagem e terá que encontrar condições para reunificar o maior país da América do Sul para dar a melhor resposta a uma crise mundial que resulta ainda do período pós-pandémico e ainda da guerra na Ucrânia. Espera-se agora que Bolsonaro reconheça os resultados em nome da pacificação do Brasil depois de um acto eleitoral em que muitos esperavam um passeio de Lula a trucidar Bolsonaro, com este a conseguir chamar a si o voto de enormes franjas do povo do Brasil.

Lula da Silva, no entanto, terá que ter consciência de que se aproxima um mandato presidencial em que terá contra si uma “oposição” bolsonarista de metade da população, com o ainda Presidente em Exercício, Jair Bolsonaro, à espreita de uma escorregadela que possa fragilizar Lula da Silva ao ponto de reabrir o caminho para o Palácio do Planalto para Bolsonaro. E a tarefa de Lula não será fácil, na medida em que não será fácil alavancar a economia brasileira, diminuir os níveis de desemprego e baixar a inflação quando todos os indicadores internacionais apontam para um futuro em contra-mão ao que Lula deseja e precisa.

Uma última nota deste acto eleitoral, curiosamente, fica para o Primeiro-Ministro de Portugal, António Costa, ele que a 48 horas do acto eleitoral lá no Brasil, veio publicamente apoiar Lula da Silva, algo que muitos brasileiros, de ambos os lados do Atlântico, não gostaram de ouvir, tendo sido visível o protesto de alguns apoiantes de Bolsonaro, até nas reportagens das televisões portuguesas lá no Brasil, contra as palavras do líder do Governo de Portugal. António Costa também ganhou, tudo promete correr dentro da tranquilidade, mas estaríamos de igual modo tranquilos se aqueles dois milhões de brasileiros tivessem votado “ao contrário”? Teria valido a pena o risco assumido pelo governante daquele que tem condições para ser o maior interlocutor na Europa com a maior economia da América Latina!?

Resta esperar que o Brasil prossiga os seus dias de forma pacífica, à sombra de uma bandeira verde e amarela que possa ser de novo a bandeira de um povo e não apenas a bandeira de um candidato como aconteceu nas últimas semanas... para bem do próprio Brasil.

Jorge Reis
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