Foi na rua que nasceu, será na rua que deve ser celebrada. A Revolução dos Cravos, que apesar da portuguesa atracção pela produtividade ainda é assinalada com feriado nacional, será celebrada pela Associação 25 de Abril no largo do Carmo, em Lisboa, numa evocação a Salgueiro Maia.
"Não pondo em causa a consideração que a Associação nutre pela instituição Assembleia da República, a casa da Democracia, a direção da Associação 25 de Abril informa que decidiu levar a efeito uma evocação a Salgueiro Maia, nela personificando a homenagem a todos os militares de Abril, no Largo do Carmo, no dia 25 de Abril às 11 horas, evento para o qual desafia toda a população", informou, em comunicado, a associação. Vasco Lourenço, capitão de Abril e presidente da Associação 25 de Abril, fará "uma intervenção de fundo na linha da que seria feita na sessão solene na Assembleia da República".
Ficou assim decidido após encontro com Assunção Esteves, presidente da Assembleia da República e especialista em “inconseguimentos”, e depois da casa da Democracia ter negado o direito à palavra aos militares que em 1974 derrubaram a ditadura.
Escrevendo direito por linhas tortas, o Parlamento colocou a celebração de Abril no sítio certo, ou seja na rua. É o mesmo Parlamento que, alegando falta de oportunidade, recusa um regime obrigatório de exclusividade para os deputados, considerando, porventura, mais oportuno manter os eleitos com um pé na casa da Democracia e outro nos interesses privados.
Dos jornais | Sondagem
Se os portugueses fossem hoje (sexta-feira, 18) às urnas, o partido de António José Seguro ganhava com 40,9% das intenções de voto. A sondagem Aximage para o Correio da Manhã, mostra a coligação PPD/PSD-CDS/PP com 33,2 % dos votos.
A abstenção está a recuar, mas ainda assim está nos 58 %.
A vontade de mostrar um cartão amarelo (será vermelho?) ao governo é ainda contrariada pela tendência de penalizar os políticos em geral. E contributos dos partidos e dos políticos para desmotivar o eleitorado é coisa que não tem faltado.
Marquez, o colombiano universal
A Colômbia vai cumprir três dias de luto nacional pela morte de Gabriel Garcia Marquez. Jornalista, escritor, Prémio Nobel, morreu esta quinta-feira na Cidade do México. Contava 87 anos.
Figura central da literatura do século XX e porta-voz dos sentimentos da América Latina, Marquez passou por Portugal em Junho de 1975 para visitar a revolução. Escreveu numa das três reportagens na revista Alternativa, semanário fundado por si e por um grupo de intelectuais de esquerda, em Bogotá, que os portugueses andavam tão contentes com a liberdade que "deixaram de respeitar os semáforos".
Nos retratos sobre a revolução portuguesa, deixou uma previsão que o tempo se encarregou de confirmar: "Portugal está condenado a sentar-se de sapatos rotos e casaco remendado na mesa dos mais ricos do mundo".
Carlos Trigo