25a.fotos9Nos 40 anos da Revolução dos Cravos há quem questione a Democracia, fazendo, directa ou indirectamente, comparações com a paz e sossego do anterior regime. Convém lembrar que a ditadura criou uma polícia política que perseguiu, prendeu e torturou, que persistiu numa guerra sem sentido e que condenou um povo e um país à ignorância e à pobreza.

Quem não conheceu esses dias, de ensino só para alguns, de saúde para quem tinha dinheiro, de proibições e privações várias, provavelmente nem imagina que, por exemplo, o saneamento básico foi para muitos uma conquista de Abril. Água e luz nas aldeias, em muitos casos, só mesmo depois de 1974.

Uma sondagem recente, do jornal i, mostra que para a maioria dos portugueses os políticos da ditadura seriam mais honestos e preparados que os governantes actuais. Pacheco Pereira, historiador, em entrevista ao mesmo jornal comenta: “Essa sondagem tem dois aspectos: uma denúncia da corrupção actual e da percepção que as pessoas têm da corrupção e, por outro lado, revela uma ignorância sobre o passado, que resulta em grande parte da protecção que a censura deu aos políticos do antigo regime: quem conhece os documentos da censura sabe que o mundo da corrupção económica, da violência, da pedofilia, de uma perturbação quase endémica da sociedade portuguesa existia antes do 25 de Abril, era escondido. As pessoas tendem a mitificar esse passado, como sendo um tempo sem crime, nem violência e corrupção, quando de facto não era assim”.

O antigo regime, de 1926 a 1974, usou e abusou da censura. Salazar, já como presidente do conselho, afiou o “lápis azul” e nos anos 70 Marcelo Caetano pouco mais fez do que mudar o nome aos censores.

“Os muitos nortenhos que no fim-de-semana avançaram sobre Lisboa, sonhando com a vitória, acabaram por se retirar, desiludidos com a derrota. O adversário da capital, mais bem apetrechado (sobretudo bem informado da sua estratégia), fez abortar os intentos dos homens do Norte. Mas parafraseando um astuto comandante, perdeu-se uma batalha mas não se perdeu a guerra”. Este texto, da autoria do jornalista Eugénio Alves, foi publicado no República em Março de 1974, não se referia, contudo, ao jogo de futebol entre Sporting e FC Porto mas sim ao falhado golpe das Caldas, que antecedeu o 25 de Abril. A linguagem codificada era a única forma de ultrapassar a censura. 

Era este o país das elites preparadas e honestas.

Nos 40 anos de Democracia, é certo, muito erro foi cometido. É, contudo, permitido denunciar corruptos, ou condenar desmandos. E os governantes, preparados ou impreparados, resultam de um Parlamento eleito.

Mesmo com algum desencanto pelo que ficou por fazer ou pelos muitos erros cometidos, ainda há esperança. Até porque, afinal, a vida começa aos 40.

Foto: Centro de Documentação 25 de Abril | Universidade de Coimbra

CarlosTrigo

 Carlos Trigo

 

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