Encerramento com chave de ouro e com as músicas de toda uma carreira foi o que permitiu Rui Veloso esta quinta-feira no último dos Grandes Concertos do Casino, ciclo já habitual de concertos semanais nas noites de verão no Lounge D do Casino Estoril que este ano teve no músico do Porto o ideal para encerrar um programa uma vez mais preparado com todo o cuidado para noites de grandes músicas sempre lotadas de público. Desta feita, na noite de 9 de Agosto, Rui Veloso provou que ainda há estrelas mas na terra, deixou claro que ainda há canções de amor, e deu conta de estar em pleno na interpretação das suas músicas de sempre.

Durante duas horas, aqueles que encheram o espaço do Lounge D do Casino Estoril mas também a área envolvente, aliás tal como nós, viajaram no tempo em companhia do “Pai do rock português” com os seus grandes êxitos. No alinhamento encontrámos temas como “Já não há canções de amor”, “Porto Covo”, “Avenidas”, “Ninguém escreve à Alice”, “Nativa” ou “Sei de uma camponesa”, mas também “Saiu para a rua”, “Ai quem me dera a mim rolar”, “Trolha d’Areosa”, “Primeiro beijo”, “Jura” e “Cavaleiro andante”. O espectáculo não terminaria por aqui, e no tema seguinte Rui Veloso teve uma companhia inesperada em palco, da fadista Mariza, ela que estava nas mesas do Lounge D e que não deixou de subir ao palco para cantar com Rui Veloso “Porto Sentido”.

Depois, já com Mariza de novo entre o público, Rui Veloso prosseguiu com os restantes temas do alinhamento, nomeadamente “Guadiana”, “Brilho dental”, “Baile da paróquia”, “À sombra da tamareira”, “Nunca me esqueci de ti”, “Lado lunar” e o eterno “Chico fininho”. O espectáculo parecia ter terminado ali, Rui Veloso fez as despedidas da praxe, mas o público não arredou pé e exigiu o regresso do artista, para um encore preenchido por mais dois temas: “Não há estrelas no céu” e “Paixão”.

Acabou assim por ser com casa cheia a trautear as canções do século passado, como referiu Rui Veloso, que a noite se fez, em redor de um nome que por si só já dispensa apresentações. Ainda assim, não poderemos deixar de recordar que, aos 23 anos, Rui Veloso lançou o álbum "Ar de Rock", gravado com a Banda Sonora (Ramon Galarza e Zé Nabo), tendo contado com Carlos Tê e António Pinho na escrita das letras em português. No disco, o tema "Chico Fininho" foi um marco na música rock cantada em português.

Em 1981 foi editado o single "Um Café e Um Bagaço", verificando-se uma mudança na banda sonora em redor de Rui Veloso, com a saída de Zé Nabo e a entrada de António Pinho Vargas e Mano Zé. O álbum "Fora de Moda" veio a ser editado em 1982, contendo temas como "Estrela De Rock And Roll", "A Minha Namorada Até Fala Estrangeiro", "A gente Não Lê" e "Sayago Blues". Acabou no entanto Rui Veloso por ter que esperar até 1983 para conhecer de novo grandes sucessos com o lançamento nesse ano do álbum "Guardador de Margens". O maior sucesso surgiu no tema "Máquina Zero", num álbum em que o tema que lhe deu nome e ainda "A Ilha" surgiram como outros temas marcantes. Pelo meio, Rui Veloso ainda teve tempo para gravar o single "Rock da Liberdade", de apoio à eleição de Mário Soares à Presidência da República.

Chegado a 1986, Rui Veloso lança o álbum homónimo, que esteve para se chamar "Os Vês pelos Bês", com temas como "Porto Covo", "Beirâ", "Negro do Rádio de Pilhas" e "Porto Sentido", acabando o disco por se revelar um grande sucesso. Em 1988 é editado o duplo álbum "Ao Vivo", vindo a editar dois anos depois, em 1990, "Mingos & Os Samurais", com temas como "Não Há Estrelas No Céu", "A Paixão (Segundo Nicolau da Viola)" e "Baile da Paróquia", tudo isto em um álbum que vendeu mais de 140.000 cópias.

O duplo-álbum "Auto da Pimenta", na comemoração dos Descobrimentos portugueses antecedeu a nomeação de Rui Veloso pelo então Presidente da República Mário Soares, a 10 de Junho de 1992, como Cavaleiro da Ordem do Infante D. Henrique, e nesse mesmo ano teve ainda tempo para gravar o single "Maubere", de apoio ao povo de Timor, gravado com Carlos Paredes, Nuno Bettencourt, Rão Kyao, Paulo Gonzo e Isabel Campelo. Em 1995 é editado o álbum Lado Lunar cujo tema principal é o tema que dá nome ao disco.

Rui Veloso foi mantendo uma carreira particularmente preenchida, a qual lhe permitiu integrar ainda na década de 1990 os Rio Grande, projecto em que esteve com Tim, João Gil, Jorge Palma e Vitorino, num estilo de música popular com influências alentejanas que alcançou uma considerável popularidade. Dessa experiência resultariam dois discos, um de originais em 1996 e outro ao vivo, em 1998, ano em que foi também editado o álbum Avenidas, com temas como “Todo O Tempo Do Mundo” e “Jura”. Faz ainda o tema principal do filme "Jaime" de António Pedro Vasconcelos, "Não Me Mintas".

Em 2000 surge a compilação “O Melhor de Rui Veloso - 20 anos depois”, tendo sido ainda editado um disco de tributo: 20 anos depois - Ar de Rock. Os projectos sucediam-se e dois anos depois, em 2002, a mesma formação dos Rio Grande, mas agora sem Vitorino, voltou a juntar-se no projecto “Cabeças no Ar”, dedicado a canções nostálgicas que remontam aos tempos da escola, entre elas “O Primeiro Beijo” e “A Seita Tem Um Radar.”

Foi preciso esperar entretanto até 2012 para surgir “Rui Veloso e Amigos”, um disco que contou com a colaboração de nomes como Jorge Palma, Camané, Luís Represas, Expensive Soul, Carlos do Carmo e Dany Silva, entre outros. Três anos depois, a 6 de Novembro de 2015, Rui Veloso comemorava os 35 anos de carreira com um concerto realizado no então MEO Arena, acabando por estrear neste concerto uma canção chamada “Do Meu País”, com letra do poeta moçambicano “Eduardo Costly-White”. “Do Meu País” e “Romeu e Juliana” são os dois temas inéditos da compilação “O Melhor de Rui Veloso”, lançada ainda em 2015.

Consta por aí que Rui Veloso tem na gaveta um álbum de originais pronto a lançar, mas enquanto isso não acontece, a verdade é que os temas de sempre que todos conhecemos praticamente de cor e cantarolamos sem qualquer dificuldade são já hinos da música portuguesa e do rock em português, permitindo sempre qualidade às actuações de Rui Veloso. Esta, no Lounge D do Casino Estoril, como seria de esperar, não fugiu de modo nenhum à regra e qualidade e a boa música foram constantes nas mais de duas horas em palco do “pai do rock português.”

texto: Ana Cristina Augusto
fotos: Jorge Reis

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