Provavelmente o nome deste autor não diz nada ao leitor desta rúbrica, mas se lhe dissermos que foi o vencedor do Prémio Branquinho da Fonseca Expresso/Gulbenkian 2019 talvez seja razão suficiente para lhe aguçar o apetite e a curiosidade. Geremias Mendoso chega ao mundo dos livros com um texto que contém aquilo que a maioria dos escritores procura durante toda a sua careira: um estilo próprio, uma linguagem única e uma forma de narrar muito pessoal.
A obra é explicada pelas palavras do autor: [o gato] “É interpretado aqui em África como uma entidade mensageira que, através do seu choro, nos anuncia com antecedência a morte de um parente ou de alguém que conhecemos. O narrador dessas histórias é esse gato, ele converteu-se nesse gato que chora como pessoa para redigir essas histórias”.
(pág. 11)
(pág. 14) |
Geremias Mendoso confessa: “Quando era criança o meu sonho era viajar pelos diferentes mundos e, por sorte, encontrei na escrita, o caminho para explorar novos mundos e conhecer novas dimensões”. Sobre este jovem autor, o já consagrado Mia Couto sublinha que “neste livro estão as vozes de Moçambique. É um livro muito autêntico, muito ligado à gente, muito ligado aquilo que é o quotidiano deste povo”.
E Couto acrescenta: “Acho que aquilo que um escritor anda à procura a vida inteira é encontrar a sua própria voz, encontrar essa conexão intíma com as coisas; o Geremias já encontrou”, e este elogio de um dos maiores escritores moçambicanos da atualidade prova o quão única e especial é a narrativa deste jovem autor.
(pág. 15)
(pág. 21) |
Ao longo do livro encontramos algumas ilustrações da autoria de Samuel Djive, o artista que encontrou a sua inspiração para as mesmas “viajando com o texto dele [Geremias Mendoso]”. Samuel concorda com as palavras de Mia Couto ao referir que o texto “retrata muito daquilo que é a nossa realidade como povos africanos. Tem muito de identidade, tem a cultura, tem o modo de viver dos povos africanos e isso fez com que eu também pudesse fluir mais, pudesse perceber mais o texto dele.”
Da conjugação destes dois talentos nasceu O Gato Que Chora Como Pessoa, vencedor do Prémio Branquinho da Fonseca Expresso/Gulbenkian 2019 e editado em Portugal sob a chancela da Caminho. Este galardão tem como objetivo incentivar o aparecimento de jovens escritores (entre os 15 e os 30 anos) de literatura infantil e juvenil. Geremias Mendoso dedicou-o a todos os moçambicanos e salientou que apesar de nunca ter pensado que esta obra ganhasse um prémio, este “é sempre uma surpresa.”
“É ali um acidente que acontece, algo que não esperamos, mas que de alguma forma é boa. Uma surpresa boa!” Aos 24 anos, este enfermeiro, licenciado pela Faculdade de Ciências de Saúde da Universidade Lúrio, vê o seu primeiro livro publicado e torna-se numa promessa no mundo da literatura.
(pág. 44)
(pág. 55)O Gato que Chora como Pessoa |
Leonor Noronha