O Benfica foi esta quarta-feira literalmente desmontado pelo Salzburgo, no primeiro quarto de hora do jogo de estreia da fase de grupos da Liga dos Campeões, período em que os encarnados foram castigados com duas grandes-penalidades, aos minutos 2' e 14', e o primeiro de dois golos que viriam a sofrer nesta partida. Mas os desaires do Benfica não se ficaram por aí já que a equipa de Luz viu o guarda-redes Trubin receber um cartão amarelo logo no segundo minuto do jogo, depois de provocar a primeira grande penalidade, pôde ainda assim respirar de alívio quando Konate falhou o castigo máximo ao rematar sobre a trave da baliza do Benfica, mas sofreu um primeiro golo neste jogo ao minuto 14'.
Como se todos aqueles primeiros imprevistos negativos não bastassem, o Benfica perdeu a presença em campo do central António Silva, expulso com um cartão vermelho direto no lance que deu origem ao segundo penalti do jogo, passando a partir dali a jogar com menos um jogador em campo e a perder frente à turma austríaca.
Em cima de tudo isto, como se a inferioridade numérica não fosse já um problema suficiente para uma equipa que tinha que correr atrás do prejuízo, o nervosismo evidente do jovem guarda-redes Trubin não ajudava em nada a dar tranquilidade à equipa de Roger Schmidt, que não conseguia colocar sobre o relvado da Luz um necessário jogo assertivo frente a um adversário que antes da visita ao relvado do Estádio da Luz nunca tinha vencido fora de sua casa em jogos para a Liga dos Campeões.
Em termos práticos, o Benfica perdeu o jogo e a sua própria organização nos primeiros quinze minutos, período em que consentiu um golo de grande penalidade, perdeu um elemento importante na defesa, António Silva, e perdeu também a importante contribuição de João Mário que Roger Schmidt teve que “sacrificar” para a entrada de Morato, visando a reconstrução da linha defensiva.
Dois penaltis uma expulsão e um golo sofrido, tudo em 15 minutos!
Há que lembrar que ainda antes de sofrer o primeiro golo o Benfica até poderia ter começado a perder bem mais cedo, logo ao segundo minuto do jogo, depois de uma primeira grande penalidade falhada pelo Salzburgo, provocada por uma saída errada de Trubin que abalroou Pavlovic, deixando bem evidente o seu enorme nervosismo e assinando uma má estreia na milionária Liga dos Campeões.
E a verdade é que à partida para este primeiro jogo do Benfica na fase de grupos da Liga dos Campeões, a turma encarnada surgia como favorita à vitória sobre o Salzburgo, condição que justificava mesmo as odds propostas para este jogo pelo ESC Online que atribuía uma odd de 1.44 para a vitória benfiquista, 4.75 para o empate e 6.05 para o menos provável triunfo do conjunto austríaco. A compor este cenário, as palavras do presidente do Benfica antes do jogo colocavam mesmo alguma pressão positiva sobre a equipa campeã nacional, nomeadamente quando Rui Costa admitiu que será difícil um dia ao Benfica ganhar a Liga dos Campeões, mas que ainda assim há que sonhar. Ora, essa missão começava neste jogo, e com tudo isto alinhado no querer dos mais de 60 mil adeptos que encheram o Estádio da Luz, as condições pareciam reunidas para uma noite vitoriosa do Benfica.
Só que num jogo marcado para os encarnados pelas sempre fatais leis de Murphy, onde tudo o que poderia correr mal correu pior ainda, o Salzburgo começou o jogo a colocar muitos elementos na frente de ataque, algo que parece ter surpreendido a equipa benfiquista. Depois, por cima desse factor, o guarda-redes Anatoly Trubin entrou muito mal na partida, com erros acumulados sobre um enorme e evidente nervosismo, surgindo como corolário das referidas leis de Murphy o minuto 14 do jogo.
Depois de um remate do lado esquerdo do ataque do Salzburgo, quando Trubin já estava adiantado para encurtar o espaço ao avançado do Salzburgo, a bola ressalta no pé de Otamendi e a sua trajectória leva a bola a descrever um arco que resulta num chapéu ao guarda-redes, acabando a bola por bater na trave e daí ressaltar para o braço de António Silva que a tira do alcance de Konate quando este já se preparava para encostar a bola para o golo. O árbitro turco Halil Umut Meler mostrou de imediato o vermelho direto ao jovem central benfiquista e assinalou o castigo máximo, agora com Simic chamado a converter e a não tremer, perante um Trubin que caiu para um lado e a bola entrou pelo lado contrário.
Expulsão de António Silva promove Morato e sacrifica João Mário
Num jogo para o qual Roger Schmidt havia chamado Anatoly Trubin para a baliza, com a defesa formada por Bah, António Silva, Otamendi e Aursnes, ainda com João Neves e Kökcü na linha média, e depois com Di María, Rafa e João Mário no apoio ao ponta-de lança Petar Musa, tudo mudava agora, com Morato a forma a dupla de centrais com Otamendi, e Peter Misa agora a ter o apoio apenas de dois elementos, com Aursnes a fazer um jogo de enorme sacrifícil já que passou a ter que fazer todo o flanco esquerdo, subindo até bem perto da linha de fundo quando o Benfica teve bola, tendo que recuperar depois a sua posição defensiva para recompor o bloco do Benfica no apoio a Trubin.
Do outro lado, o técnico austríaco Gerhard Struber via a sua equipa a assinar uma exibição particularmente positiva, assente na excelente exibição do seu guarda-redes Schlager, com Dedic, Baidoo, Pavlovic e Terzic na linha defensiva, ainda Bidstrup, Gourna-Douath, Gloukh e Kjaergaard no meio-campo, e dois elementos mais adiantaddos, Konaté e Simic, sempre apontados à zona de intervenção de Anatoly Trubin.
Perante estes dois esquemas, o Benfica até conseguiu a espaços levar a bola até junto da baliza do Salzburgo com alguma eficácia, mas encontrou aí um guarda-redes a assinar uma excelente exibição, Alexander Schlager, ele que acabou mesmo por merecer a distinção no final de melhor elemento em campo tal foi a qualidade com que defendeu a baliza do Salzburgo.
Exemplo dessas intervenções de enorme qualidade de Schlager aconteceu ao minuto 20', quando Di Maria bateu um pontapé de canto que quase levava a bola directamente para a baliza, aparecendo Alexander Schlager a defender sobre a linha de golo o que seria o empate na partida. Di Maria, aliás, foi um jogador que deu tudo o que pôde a este jogo, sofrendo mesmo algumas faltas a que o árbitro fez por diversas vezes vista grossa, como um estalo que sofreu no rosto dado por um adversário ao minuto 36' e que nem mereceu da parte do árbitro o assinalar de qualquer falta.
Schlager defendeu tudo enquanto Trubin andou aos papéis
Quando o Benfica parecia ter tudo para marcar, era o posicionamento errado de quem dava o último toque que acabava por resultar em foras-de-jogo que impediam a festa nas bancadas do Estádio da Luz, onde os adeptos tremeram por várias vezes quando sempre que o Salzburgo ameaçava o segundo golo. À beira do intervalo, Trubin, do alto dos seus dois metros de altura, saiu dos postes para interceptar a bola e falhou uma vez mais, voltando a andar aos papéis na pequena área, com os jogadores do Benfica a afastarem a bola para longe quando o Salzburgo já ameaçava a obtenção do 2-0. O certo é que o intervalo chegou com o Benfica a perder pela diferença mínima e os adeptos benfiquistas ainda acreditavam que a maior qualidade do plantel do Benfica poderia permitir pelo menos aos comandados de Schmidt chegarem à igualdade.
Para a segunda parte nenhum dos treinadores operou qualquer alteração nas respectivas equipas, tendo sido notado a forma como Trubin entrou em campo ladeado por Morato e Otamendi, com o central argentino e capitão de equipa do Benfica a dar uma palmadinha no ombro do jovem guarda-redes ucraniano, deixando a clara ideia de que lhe estaria a dizer que tudo iria acabar bem. Só que ao minuto 51', Gloukh fez mesmo o 2-0, tirando o melhor partido de um passe de Simic na grande área, num lance em que Trubin nada pôde fazer. Morato errou no passe, a bola foi interceptada por Simic que avançou para a grande área do Benfica e, já em frente a Trubin, só teve que assistir Glouk que fez o 2-0 de forma fácil.
Ao minuto 64' é João Neves que fica à beira de marcar para o Benfica, com nova defesa de excelente qualidade do guarda-redes do Salzburgo, e é com a equipa encarnada a dar sinal que poderia chegar ao golo que o público da Luz começa a gritar pelo nome de Neres, pedindo a Schmidt para colocar em jogo o extremo brasileiro. Ora se os adeptos pediram Neres, Schmidt fez-lhes a vontade e ao minuto 73' apostou mesmo em Neres, mas também em Chiquinho, para as saídas de Di Maria e Kokçu.
Do lado do Salzburgo, Gerhard Struber refrescava de igual modo a sua equipa, ele que já tinha apostado em Koita para o lugar de Konate ao minuto 59, e que também ao minuto 73' fazia entrar Ratkov, Sucic e Solet, para as saídas de Glouk, Simic e Baidoo, este último a escapar ao segundo cartão amarelo que deveria ter visto ao minuto 70' depois de uma falta dura sobre Rafa. O árbitro não mostrou o cartão amarelo ao jogador do Salzburgo e, ao invés, mostrou o amarelo a Otamendi, o capitão do Benfica que reclamou pela diferença de critérios do árbitro turco e recebeu ele mesmo a cartolina amarela.
Neres no lugar de Di Maria e Tengstedt por troca com Musa
Já com David Neres em campo, e perante 60.917 espectadores, a assistência oficial no Estádio da Luz para este jogo, o Benfica foi teimando em não conseguir ser consequente frente a um adversário organizado e com mais um elemento em campo. Ao minuto 83', Musa fica no chão lesionado e Roger Schmidt volta a mexer, apostando agora em Tengstedt por troca com o croata, e ainda em Tiago Gouveia que assumiu o lugar que era até ali de Rafa. Imagem curiosa por esta altura na transmissão televisiva deste jogo, a cara fechada do brasileiro Arthur Cabral, avançado contratado no final do mercado de transferências pelo Benfica e que Schmidt deixou ficar no banco de suplentes neste jogo.
Até ao final, o Benfica não conseguiu voltar a assustar o guarda-redes Alexander Schlager, acabando o jogo depois de pouco mais do que os cinco minutos de compensação dados pelo árbitro, numa noite de enorme desilusão no Estádio da Luz com uma derrota para o Benfica frente a um adversário que parecia estar perfeitamente ao seu alcance.
A equipa do Salzburgo revelou-se superior aos encarnados, bem mais objectiva na forma como construiu o seu triunfo, ainda que do outro lado tenham ficado na retina um punhado de lances azarados por parte do Benfica. O Benfica tem todas as condições para recuperar deste desaire e até conseguir vencer este mesmo Red Bull Salzburgo no jogo a realizar na Áustria, mas para isso tudo terá que correr bem melhor, a começar pela tranquilidade no sector defensivo e entre os postes da baliza dos encarnados.
O Benfica terá agora que apontar desde já baterias ao próximo jogo, a realizar no próximo domingo, às 18 horas, no Algarve frente ao Portimonense, havendo a curiosidade de se saber se Roger Schmidt irá apostar em António Silva ao lado de Otamendi, ou se irá manter Morato já que no próximo jogo da Liga dos Campeões António Silva irá cumprir um jogo de castigo.
Certo é que entre o jogo em Portimão e o próximo compromisso do Benfica para a Liga dos Campeões, que acontecerá no terreno do AC Milan, o Benfica terá que receber o FC Porto no Estádio da Luz no próximo dia 29 do corrente mês.