Frente à França de Mbappé, jogador que à sua conta marcou três golos e obrigou a discussão da final do Mundial a ir para os pontapés da marca da grande penalidade, a Argentina de Lionel Messi conseguiu ainda assim, numa final de loucos que ficará para a história como, provavelmente, a melhor final de um Mundial de todos os tempos, garantir o terceiro título para a alviceleste, com Messi a liderar uma equipa de estrelas e a deixar claro ser, sem dúvida, o melhor jogador do Mundo de uma geração que chega ao final, isto depois de um Campeonato do Mundo em que o seu eterno rival, Cristiano Ronaldo, ficou muito aquém do que dele se esperaria, numa selecção de Portugal que caiu nos quartos-de-final aos pés da formação de Marrocos.

Sobre esta final entre a Argentina e a França, a verdade é que a formação sul-americana entrou muito bem no jogo e ao intervalo já vencia por 2-0, com o primeiro golo a ser apontado por Lionel Messi, na transformação de uma grande penalidade por uma falta discutível de Dembélé sobre Di Maria ao minuto 22. Certo é que o árbitro polaco Marciniak Szymon não teve dúvidas em assinalar o castigo máximo, o VAR manteve a decisão do chefe de equipa e coube a Lionel Messi cobrar o castigo máximo, abrinco o marcador com um primeiro golo para os argentinos.

Pouco depois, ainda no primeiro tempo, de novo Di Maria a ser decisivo, ele que foi a grande surpresa neste “onze” titular da Argentina, a jogar pelo lado esquerdo e a fazer a cabeça em água aos jogadores mais recuados da selecção francesa. Ao minuto 36, na melhor jogada partida até àquele momento, Molina seviu Mac Allister que, de primeira, colocou a bola em Messi para um passe para Álvarez, tudo ao primeiro toque, chegando a bola de novo a Mac Allister que cruza para a finalização de Di Maria na casa do guarda-redes francês Lloris. Era o segundo golo de uma Final que parecia estar a ficar decidida a favor da Argentina, não tanto pela vantagem dos dois golos, mas pela incapacidade da França em responder a preceito.

Argentina vai para o intervalo a ganhar por 2-0

O jogo foi para o intervalo com a vantagem de dois golos para os argentinos e no retomar da partida para o segundo tempo a toada do jogo manteve-se, com a França sem conseguiu responder a preceito à Argentina que por esta altura já tinha baixado o nível do seu jogo, limitando-se a procurar controlar o desenrolar da partida. Antes do intervalo o seleccionador francês ainda apostara em Thuram e Kolo Muani, para os lugares de Giroud e Dembélé, mas as mudanças pareciam nada de novo ter trazido ao jogo francês.

Ao minuto 64 Di Maria dava o seu lugar a Acuña, consciente de que tinha cumprido a sua missão e deixado a Argentina confortável com uma vantagem de dois golos, a formação francesa respondia com mais duas alterações na sua formação, com as entradas de  Coman e Camavinga por troca com Griezman e Theo Hernandez. Os adeptos argentinos reagem “brindando” os jogadores franceses com “olés” a partir da bancadas e, no lance quase imediato, um lance entre Otamendi e Kolo Muani resulta num único erro do central argentino do Benfica em todo o Mundial permitindo uma grande penalidade para a França.

Chamado a converter o castigo máximo, Kylian Mbappé não se atemorizou perante a estampa física do guarda-redes argentino, Emiliano Martinez, com o seu 1,95m, e fez mesmo o golo para a França que permitia o regresso dos franceses à discussão da Final. E se o resultado voltava a ficar em aberto, mais ainda ficou um minuto depois quando o mesmo Kylian Mbappé, com um remate fabuloso, voltou a bater Martinez para o empate do jogo a dois golos, isto quando estavam passados 82 minutos. Mbappé marcava o seu sétimo golo no presente Mundial e passava a liderar a tabela dos melhores marcadores da competição.

Mbappé faz dois golos e obriga a prolongamento

Ao minuto 90'+05' o guarda-redes da Argentina conseguiu uma fabuloso defesa à guarda-redes de andebol, travando um remate de Rabiot com o pé esquerdo bem esticado a impedir que a bola fosse para o fundo da baliza argentina, e aos 90'+07' é a vez de Lloria, o guarda-redes da França, fazer um voo impressionante para impedir o golo de Lionel Messi que por certo iria resolver a Final naquela altura. O certo é que ultrapassados os minutos de compensação o marcador não voltou a funcionar e houve necessidade de levar o jogo a prolongamento.

Para o prolongamento, a Argentina ainda colcou três jogadores a partir do banco, nomeadamente Montiel, Paredes e Lautaro Martinez — saíram Molina, De Paul e Juan Alvaréz —, enquanto que a França pôde fazer uma alteração, fazendo entrar no jogo Fofana por troca com Rabiot. O primeiro tempo do prolongamento, contudo, não permitiu qualquer golo e o empate prevalecia quando as duas equipas puderam trocar de campo.

Só que dois minutos depois de retomada a partida, Leonel Messi serve Enzo, este faz o passe para Lautaro que remata forte para a defesa de Lloris, aparecendo Messi sempre oportuno a fazer a regarga para o golo, com um jogador francês a tirar a bola de dentro da baliza mas já bem para lá da linha de golo. A Argentina volta assim a ficar em vantagem, a 12 minutos do final da discussão, deixando a ideia de que tudo estaria resolvido. Só que uma vez mais a selecção da França voltou a mostrar ser Mbappé e mais dez, com o jovem jogador francês a aparecer ao minuto 117' a rematar forte para a baliza gaulesa e a encontrar o braço de Montiel na trajectória da bola, com o jogador argentino a saltar e a evitar o golo mas à margem das leis do jogo. Mais uma vez, a terceira, o árbitro polaco não teve dúvidas em apontar a marca da grande penalidade para o castigo máximo e o mesmo Mbappé, pois claro, nem poderia ser outro, a assumir a transformação do pénalti. Guarda-redes para um lado, bola para o outro, e Mbappé fazzia o hat-trick nesta Final do Mundial do Qatar, repondo a igualdade entre as duas selecções agora a 3-3, com que se atingiu o final do tempo de prolongamento.

Messi e Mbappé voltam a marcar e obrigam ao desempate por pénaltis

Com tudo por dedicir no que ao vencedor deste Mundial dizia respeito, houve então que avançar para a marcação de pontapés a partir da marca da grande penalidade, para decidir dessa forma, quem iria levantar o caneco, se a Argentina, naquele que seria o seu terceiro Mundial, ou se a França, que procurava aqui sagrar-se bi-campeã, isto depois dos gauleses terem vencido sobre a Croácia na final do Mundial de 2018. Cruisosamente, nos dois últimos lances do prolongamento, França primeiro, e Argentina depois, voltaram a dispor de oportunidades clamorosas para marcar, mas primeiro pela intervenção fabulosa de Martinez, e depois por um falhanço clamoroso de Montiel, a verdade é que o marcador manteve o 3-0, isto já depois de cada um das selecções terem feito uma derradeira substituição chamando a jogo um elemento em cada conjunto para a missão singular de bater as grandes penalidades, nomeadamente Dybala para a Argentina, e Disadi para a França.

Naquilo que muitos chamam de lotaria das grandes penalidades, coube à França a responsabilidade de bater o primeiro pénalti, a cargo de Mbappé, que naturalmente não falhou. Respondeu a Argentina Por intermédio de Leonel Messi, e também este não falhou, fazendo o 1-1 neste marcador tão especial quando decisivo depois do 3-3 em jogo jogado.

Marcador seguinte para a França, Coman, rematou mas não conseguiu enganar Martinez, que defendeu o remate do jogador gaulês, deixando a Argentina em vantagem. Dybala marcou o seu pénalti e fez o 2-1 para a Argentina, mas Tchouméni, perturbado pelo guarda-redes da Argentina, rematou desenquadrado, com a bola a sair pela linha de fundo. Paredes fez o 3-1 para a Argentina, Kolo Muani reduzi para a França fazendo o 3-2 e Montiel, chamado a marcar o pénalti decisivo, assinou o 4-2 e entregou o título de campeão do Mundo à Argentina, num jogo em que o talento de Messi à frente de um conjunto que funcionou como equipa, superou um adversário em que Mbappé quase que conseguia, por si só, contrariar o melhor futebol do conjunto sul-americano.

Mbappé melhor marcador, Enzo melhor jovem e Messi... melhor dos melhores!

Kylian Mbappé garantiu o título de melhor marcador do torneio com oito golos, o benfiquista Enzo Fernandéz foi considerado o melhor jogador jovem (sub-21) do Mundial, ele que começou como suplente mas que a partir do momento em que foi chamado a jogar agarrou a titularidade para não mais a largar, o guardião argentino Emiliano Martinez foi nomeado o melhor guarda-redes o Mundial e Leonel Messi, o número 10 da Argentina, foi justamente nomeado como o melhor jogador do Mundial, ele que levantou o título de Campeão Mundial para a alviceleste, naquele que, ao que já disse, terá sido o seu último Mundial, isto apesar de Messi não estar ainda disposto a encerrar a carreira.

Fica assim para a história o título da Argentina, o segundo lugar da França com uma exibição soberba de Kylian Mbappé a assinar um hat-trick na final, e ainda o terceiro lugar da Croácia que no jogo em que se discutiu o terceiro e quarto lugares bateu a sua congénere de Marrocos por 2-1. Portugal caiu aos pés de Marrocos nos quartos de final, num jogo em que o conjunto magrebino venceu pela diferença mínima, vindo a resultar desse jogo o afastamento do seleccionador de Portugal, Fernando Santos, que acabou dispensado pela FPF por ter alegadamente ter sido atingido o fim de um ciclo.

Parabéns à Argentina pelo seu título mundial, parabéns a Leonel Messi por ter confirmado a sua condição de melhor jogador do Mundo de uma geração que ficou marcada pelo embate entre este génio argentino e o igualmento génio português Cristiano Ronaldo, e tudo isto no cair do pano de um Mundial controverso e polémico como foi o do Qatar, onde questões como os direitos humanos e a igualdade de género, entre outras, foram relegadas para planos secundários, por vezes mesmo censuradas pelas autoridades do Qatar com o “fechar dos olhos” da FIFA que privilegiou sempre os milhões recebido dos regime Qatari.

texto: Jorge Reis
fotos: ©Twitter
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