Foi claramente o querer dos jogadores do Benfica que permitiu este domingo a vitória dos encarnados sobre o Sporting, o rival de sempre das águias que até jogou melhor no Estádio da Luz, mesmo quando esteve a jogar em inferioridade numérica, mas que se revelou incapaz de segurar os jogadores encarnados nos minutos finais da partida em que as águias conseguiram a cambalhota no resultado do jogo. Por essa altura, entre os minutos 93' e 99', os pupilos de Roger Schmidt, de faca nos dentes e com uma garra claramente mais própria do que transmitida pelo seu técnico, encontraram forças para darem a volta ao marcador em apenas cinco minutos, já no período de compensação, quando muitos adeptos do Benfica tinham já abandonado as bancadas, tristes com a derrota que acabou por não o ser.

Com efeito, Benfica e Sporting assinaram um jogo equilibrado durante o primeiro tempo, com a turma benfiquista a ter as melhores oportunidades nos primeiros 45 minutos, altura em que, ainda assim, Trubin assinou duas defesas de bom nível. E quando todos já estariam à espera que o jogo chegasse ao intervalo com um empate sem golos, Gyokeres tirou o melhor partido de um excelente passe de Marcus Edwards e, de primeira, rematou para o primeiro poste da baliza do Benfica onde Trubin acabou por permitir o golo do Sporting.

O avançado sueco dos leões conseguiu armar a máscara no seu rosto com a qual gosta de celebrar os golos que marca, os adeptos do Sporting celebraram o golo no terreno do eterno rival, e a equipa leonina recolheu aos balneários, no intervalo, à frente do marcador num jogo em que, por aquela altura, o empate até seria aceitável por aquilo que as duas equipas haviam feito dentro das quatro linhas ao longo dos primeiros 45 minutos.

Para trás, por esta altura, ficava um jogo em que o Benfica surpreendeu com um esquema táctico algo estranho, ou pelo menos diferente, isto porque voltou a jogar com três centrais em campo, mas num esquema táctico que foi claramente em 4x3x3, com o central Morato a aparecer a lateral esquerdo ele que viria a estar na assistência para o primeiro golo do Benfica, numa linha defensiva em que Otamendi e António Silva jogaram no eixo e Aursnes no corredor direito, permitindo que João Neves aparecesse no meio do terreno, desta feita com João Mário e Florentino a completar a linha média. Na frente, Di Maria e Rafa tinham a missão de servir Petar Musa.

Já do lado do Sporting, o técnico Ruben Amorim apostou no seu esquema táctico “normal” na turma leonina, com três centrais — Diomande, Coates e Gonçalo Inácio — uma linha média de quatro elementos, com Matheus Reis e Ricardo Esgaio nos corredores ficando no meio Morita e Hjulmand, aparecendo na frente Pedro Gonçalves e Marcus Edwards no apoio a Gyokeres, numa equipa em que Amorim, procurando dar outra frescura ao seu conjunto, operou cinco mudanças face ao jogo da passada quinta-feira para a Liga Europa. Este facto viria a ser determinante, isto porque mesmo no segundo tempo quando Gonçalo Inácio acabou expulso por acumulação de amarelos, foi o Sporting quem aguentou melhor o jogo.

Gonçalo Inácio errou e Soares Dias não perdoou

A propósito da expulsão, há que o referir, o árbitro Artur Soares Dias começou por apostar numa posição “profilática” quando Gonçalo Inácio viu o primeiro cartão amarelo, ao minuto 21', altura em que central leonino se safou “à tangente” de um vermelho direto, numa falta cometida sobre João Neves, mas errou o mesmo Gonçalo Inácio ao cometer a falta sobre Rafa ao minuto 51', numa falha fatal para quem já se encontrava “amarelado”.

A jogar em superioridade numérica, o Benfica não conseguiu impor o seu futebol e apenas por uma vez andaram os encarnados perto de marcar, ao minuto 76', num remate de longe desferido por Di Maria que obrigou o guarda-redes leonino Adám a uma excelente defesa desviando a bola sobre a trave, mantendo a vantagem dos leões no jogo que vinha já desde o minuto 45' com o golo de Gyokeres.

Roger Schmidt, o técnico do Benfica, voltou a mexer tarde na sua equipa, fez apostas que foram tudo menos consensuais entre os adeptos nas bancadas no Estádio da Luz, nomeadamente quando apostou em Arthur Cabral por troca com Petar Musa, ou quando tirou Florentino e manteve em campo João Mário, e o Benfica parecia destinado a perder um dérbi determinante para o qual os encarnados entraram em défice perante um Sporting que partiu para este jogo como favorito.

Foi perante este cenário que, já depois do árbitro Artur Soares Dias ter dado mais seis minutos de compensação, o Benfica acabou por conseguir uma cambalhota época no resultado em dois lances separados por quatro minutos. Primeiro há um pontapé livre a partir do lado direito do ataque dos encarnados e o guarda-redes Anatoly Trubin foi para a grande-área do Sporting como se de um avançado se tratasse, deixando atrás no meio-campo encarnado apenas o norueguês Aursnes.

Di Maria cruzou, Morato assistiu e João Neves marcou

O pontapé livre foi batido, o Sporting sacudiu a bola pela linha de fundo concedendo um pontapé de canto para o Benfica, Trubin continuou na grande área dos leões, Di Maria bateu o canto ao primeiro poste, apareceu Morato a desviar de cabeça para trás no que seria uma assistência brilhante e, no coração da grande área, completamente livre de marcação, João Neves teve tempo para receber a bola com o pé direito e, com o mesmo pé, armar um remate forte para o golo do empate do Benfica. Os adeptos que ainda estavam nas bancadas no Estádio da Luz explodiam de alegria e o Sporting perdia ali a possibilidade de vencer o jogo que por aquela altura, quando já estavam jogados quatro minutos do período de compensação, passava a estar empatado a um golo.

Só que, com o mesmo querer que se revelou determinante para conseguirem o golo do empate, os jogadores do Benfica que ainda recentemente fizeram questão de partilhar uma fotografia do grupo nas redes sociais, procurando transmitir união, conseguiram de facto essa união em campo acreditando até ao final que poderiam virar o resultado do dérbi, algo que aconteceu de uma forma ainda mais dramática, num golo de Tengstedt ao minuto 90'+09' que começou por ser invalidado pelo árbitro auxiliar que assinalou um fora-de-jogo que não aconteceu pela diferença de quatro centímetros. Depois de uma primeira explosão contida pelo levantar da bandeirinha do juíz de linha, a avaliação do VAR chegou ao auricular de Artur Soares Dias que reverteu a decisão inicial e validou o golo do triunfo benfiquista, provocando uma autêntica invasão de campo por parte dos adeptos que quiseram festejar com os seus ídolos uma vitória que já ninguém estaria à espera.

Trubin foi avançado e Tengstedt virou herói

Fica para a história o querer dos jogadores do Benfica dentro das quatro linhas, face a um Sporting que terá merecido o empate e a divisão de pontos, nomeadamente pela forma como segurou o jogo quando ficou a jogar com menos um jogador, mas em que a explosão de energia do Benfica nos minutos finais se revelou fatal para o Sporting e determinante para a reviravolta no resultado. Com um Di Maria renascido com um “boost” de capacidade após 90 minutos de luta e presença efectiva em campo, um João Neves igual a si mesmo a mostrar que a tenra idade é só um pormenor para um jogador que é um gigante entre o plantel encarnado, e um Tengstetd que surgiu como herói improvável a dar a vitória aos benfiquistas, as águias puderam festejar uma vitória que acaba por ser particularmente importante e que mantém o Benfica agarrado à luta pelo título num campeonato que agora lidera ainda que com os mesmos pontos do Sporting.

Do lado da turma de Alvalade, notas de destaque para as actuações de elementos como Diomande, Morita, Hjulmand ou Marcus Edwards, elementos que estiveram em bom plano, “traídos” pelo erro de Gonçalo Inácio, um excelente elemento do plantel leonino mas que neste jogo acaba por fazer uma falta dura quando já tinha um cartão amarelo e deveria saber que não podia cometer aquela falha naturalmente sancionada por Artur Soares Dias. Ruben Amorim acabaria no final do jogo por assumir que lhe custou perder um jogo desta forma, acabando Roger Schmit por dizer que “era impossível ganhar o dérbi de forma mais bonita”, ele que não admitiu que o resultado para a sua equipa acabou por ser melhor do que a exibição, porque o foi, numa partida em que a responsabilidade do triunfo foi por inteiro dos seus jogadores e não sua. Ainda assim, ganhou o Benfica e é isso que vai contar no futuro para a história e a estatística do campeonato da I Liga.

texto: Jorge Reis
fotos: Diogo Faria Reis e Luís Moreira Duarte
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