Angela Merkel apontou o dedo a Portugal e Espanha, países que, no entender da chanceler alemã, têm demasiados licenciados. As estatísticas europeias apontam , no entanto, para um cenário bem diferente - Portugal apresenta uma taxa de 17,6% de licenciados, enquanto a Alemanha tem uma taxa de 25,1% e a média da União Europeia é de 25,3%.
Citada pela agência de informação financeira Bloomberg, a chanceler alemã mostrou-se contrária a uma possível sobrevalorização dos estudos universitários. "Caso contrário, não conseguiremos persuadir países como Espanha e Portugal, que têm demasiados licenciados", disse, defendendo os benefícios do ensino vocacional.
Em termos europeus, a Irlanda conta com 36,3% da população entre os 15 e os 64 anos licenciada, seguindo-se o Reino Unido com 35,7%. Na cauda da tabela, a Roménia (com 13,9%) e a Itália (com 14,4%).
No Parlamento, na Comissão Parlamentar de Assuntos Europeus, o deputado socialista Bravo Nico (membro do Conselho Nacional de Educação) interpelou o secretário de Estado dos Assuntos Europeus relativamente às declarações de Angela Merkel, recorrendo aos dados das estatísticas europeias (Eurostat).
“Portugal não tem licenciados a mais, mas sim a menos. Referiu, ainda, que o maior défice estrutural português é o das qualificações e que é essa a variável mais crítica para o desenvolvimento (…) A Alemanha, sendo um dos países que mais tem beneficiado com a emigração maciça dos licenciados portugueses, é um exemplo de que as declarações da governante alemã são, no mínimo, incompreensíveis e revelam uma leitura enviesada e injusta da realidade, uma vez que traduzem uma posição política que deve merecer uma posição política do governo”, pode ler-se numa nota à imprensa divulgada pelo deputado do PS.
Na mesma nota, o deputado Bravo Nico refere que o secretário de Estado dos Assuntos Europeus “não tomou qualquer posição nem assumiu qualquer declaração”.